o relógio para quando sentamos à mesa

nós duas sentadas naquela cozinha em que cabia uma mesa redonda amarela. uma do lado da outra, os pratos sujos já empilhados, papel do bombom de sobremesa amassado, só os copos na mão bebendo o restinho do segundo ou terceiro copo de suco.

todo mundo já pediu licença e levantou, foi sentar em algum lugar mais confortável do que uma cadeira de madeira. mas a gente ficou ali, amassando e desamassando o papel do bombom, tomando o suco e falando sobre a vida, a minha: a dela, a dos outros, o futuro e o passado colocados naquela mesa redonda amarela e nós duas sentadas lado a lado.

mudamos uma vida eu e ela, mas sentar em torno de uma mesa qualquer ainda nos basta. mesmo que não mais amarela ou redonda. conversamos como se o relógio não tivesse permissão de seguir. enquanto estivermos à mesa, ainda hora do almoço, da janta ou do café da tarde.

parar o tempo.

um dos poderes preciosos de minha mãe.

Este texto foi enviado na terceira edição da newsletter que criei, Faz Sentido?, junto com links relacionados. Enviarei textos mensalmente por lá e, um tempinho depois, eles vêm pra cá. Então este é o #3 O relógio para quando sentamos à mesa. Faz sentido?. Clica aqui para receber por email.