ao Coletivo pela Educação Popular, 2019

Laís Webber
4 min readDec 9, 2019

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algo que abraça e aquece, sem queimar, aconchega, exige esforço, às vezes dói,
mas não é esse algo quem faz doer, é resistir com ele e tomar tapas na cara
algo que faz sorrir, gargalhar, ser forte, sentir amor

eu queria uma metáfora

eu queria descrever como isso tudo vai acontecendo como se fosse a sensação de entrar no mar ou de abraçar apertado ou de pegar sol no inverno ou de dançar no ritmo de um tambor

mas nada equivale

eu costumo dizer que meus alunos e alunas nunca vão entender o quanto são importantes para mim e o quanto os amo, eles mudam quem sou
c o n t i n u a m e n t e

eu costumo pensar que as pessoas que compõem o coletivo comigo devem estranhar a forma como abraço-as arbitrariamente e a forma como olho para elas vez que outra

hoje eu não digo nem penso
apenas escrevo e sinto para tentar colocar para fora tudo que faz meus lábios sorrirem, minha barriga apertar e meus os olhos brilharem

por cada vez que a troca de sorrisos mudou o dia

há muitas pequenas e grandes ações individuais que é possível fazer para ir de encontro à ordem em que vivemos, para impactar em algum nível e resistir.

gosto muito delas e tenho meu pacotinho-de-atitudes, que só aumenta
maniática para uns; para mim, só eu mesma.

mas eu gosto de toque
meu rolê é o coletivo
meu grande amor é o COLEP, são as pessoas que estão nessa comigo

por cada olhar em que mergulhei nas noites de terça

em fevereiro, quando fizemos as inscrições para 2019, eu olhava as pessoinhas chegando e ficava pensando como elas seriam, tudo que tínhamos pela frente, o que será que elas escreveriam em seus textos

agora, terminado o ano letivo, eu me emociono só de pensar em cada sorriso, em cada rosto; indivíduos bem específicos com seus nomes e personalidades bonitas de conhecer, arrisco dizer que conheço, pelo menos um pouco

ontem, tivemos nossa festa de encerramento
na volta, no ônibus, eu olhava cada um pensando poxa, que sorte a minha

Como é possível juntar dezenas de pessoas, em sua maioria adolescentes, com olhos tão profundos e corações tão incríveis?
Como é possível encontrar amor em tantos abraços distintos?
Como é possível se importar tanto, mas tanto, tanto mesmo com pessoas que conheci há meses atrás?

Eu simplesmente não sei, mas sei que uma sequência de rostos lindos passa em minha mente enquanto meus dedos pressionam o teclado e meus olhos insistem em escorrer enquanto sorrio

há tempos, eu me preocupava com dar conta das atividades do coletivo em meio a uma vida corrida. sair nunca foi opção, o COLEP está no alto na minha lista de prioridades. ouvi sobre o tempo que eu dedicava absorvendo histórias de tantas pessoas, que talvez pudesse me aproximar menos, guardar energia, quem sabe.

mas energia é movimento, não se guarda, se troca
hoje, minha maior certeza é que me aproximar é o que mais quero.

quero ser chamada pra conversar no intervalo, quero o whats de oi, sora, pode levar lanche? sora, qual dia é tua aula? sora, posso mandar foto da redação? linda, vai ter aula amanhã? e muitos outros que dão início a conversas que se tornam vínculos e abraços em sala de aula. afeto, toque.

eu projeto futuros em que vou ver todas essas pessoas juntas de novo, com esses sorrisos enormes ainda, mas já tiozinhos e tiazinhas com sonhos ainda maiores depois de tantos outros realizados.

eu aprendi gírias e a montar cubo mágico (quase vai), mas também aprendi que posso morar em muitos peitos e ser morada de tantos também.

xuxus, meu sorriso sempre vai estar disponível para vocês em qualquer situação
vocês fazem ele brotar no rosto da maneira mais sincera possível

por todo o cuidado e por todos os abraços de quem está comigo

o COLEP me tira sorrisos e me movimenta, contagia todos os meus projetos e relações
o COLEP me fez e me faz professora
o COLEP é o lugar em que me sinto confortável e segura de que o mundo é bom porque as pessoas são i n c r í v e i s

esse coletivo é construído horizontalmente, por meio da autogestão, com dedicação contínua para preservá-la em tudo que se faz. esse movimento exige cuidado. não cuidado no sentido de evitar perigo, cuidado no sentido de cuidarmos uns dos outros.

no COLEP, cuidamos uns dos outros e esse é o mundo que me envolve

trocam-se olhares de carinho sincero, pedidos de desculpa honestos e com vontade de melhora, sem ninguém precisar apontar erros
mas, se precisar, todo mundo aponta e está tudo bem
estarmos juntos só é possível se crescermos juntos

ninguém entrou para fazer amigos, nada se decide na mesa do bar.
amizades crescem dentro de mim com pessoas que eu admiro genuinamente

eu não saberia sobreviver no caos sem olhar para esses olhos, sem estar junto, sem fazer junto, sem debate que me faz mudar de ideia.
parte grande e fundamental de mim está com as pessoas que constroem comigo e que me constroem e me desconstroem também.

ontem, e em tantos outros dias, os olhava pensando no tamanho do amor que sinto por vocês e no tamanho do carinho que há entre nós. acolhimento, cuidado, afeto e reciprocidade. Vocês têm o meu amor.

O mundo tinha que ser feito de vocês.

se houver metáfora possível, quero experimentar.

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Laís Webber
Laís Webber

Written by Laís Webber

Jornalista e Professora e tudo isso é só uma pequena parte.

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