minhas alunas não sabem escrever título, nem eu.

Laís Webber
2 min readOct 15, 2019

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me dói dizer que não consigo expressar algo em palavras
cresci mergulhando nelas para lidar com o que passa dentro de mim
foram elas, em boa parte, que me levaram a ser professora e é através da escrita que me sinto, de fato, professora

mas, sempre que tento escrever sobre esse sentir-se professora, fracasso

ser professora vai do meu olhar sobre eu mesma
do olhar meu para as alunas e das alunas para mim
vai do meu olhar sobre o texto que escrevo, que a autora referência escreve, que minha aluna escreve e leio em casa e comento e escrevo de volta para ela e são palavras

ser professora vai dos olhares e das escritas e dos afetos até a dureza e a dor e a luta e a necessidade de negar o amor presente na fala ~faz por amor~
essa frase usa palavras tão lindas para apertar a professora contra a parede e tirar dela todo o amor de verdade, tirar dela toda a ciência, tirar dela todo o valor de profissional

falar ou escrever sobre ser professora pode encher os olhos de lágrimas e, com certeza, os meus se enchem agora

lágrimas de dor e de tristeza por tanto sofrimento e humilhação
lágrimas de felicidade e emoção por ver tão de perto o crescimento de pessoas tão incríveis como só alunas podem ser

eu gosto do amor de professora — o que eu sinto e não o distorcido. Eu gosto do amor de professora porque ele não exige, nem sequer tem, reciprocidade alguma. Ele exige respeito e valorização, claro. Mas não exige o mesmo amor em troca. Minhas alunas nunca vão entender ou talvez acreditar no tamanho do amor que tenho por cada uma delas. Elas nem precisam entender, só sentir que as quero bem e que estamos fazendo algo juntas.

querer bem e orgulhar-se ao ver os pequenos passos de pessoas gigantes
rir ao ver os meus pequenos passos a cada aula

durante a aula, o tempo para. Como aluna, nunca parou. Como professora, a experiência é presença, sem antes ou depois ou outros lugares e outras questões, presença.

talvez hoje eu não queira pensar na dor e no sofrimento, sigo, por agora, lutando e falando do amor sincero não roubado de nós.

Sora é o melhor vocativo que há

E as palavras chegaram perto dessa vez, mas seguem insuficientes para expressar o tanto que me preenche e me movimenta tudo isso.

Gratidão às pessoas donas desses olhares trocados a cada aula, gratidão pelos sentimentos vividos.

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Laís Webber
Laís Webber

Written by Laís Webber

Jornalista e Professora e tudo isso é só uma pequena parte.

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