Linha é tempo, é continuidade
por que se contemplam linhas nos corpos que malham e não se contemplam linhas nos corpos que vivem?
lindas linhas nas coxas braços e panturrilhas, linhas que representam horas fechadas em salas repetindo movimentos
terríveis linhas no rosto, linhas que representam anos de sorrisos e, por que não, de testas franzidas por brabeza ou excesso de claridade. anos expressando alguma coisa.
>foco no etarismo<
mas parênteses aqui para as ainda terríveis linhas de silhuetas com curvas mais acentuadas que aquelas que alguém disse que eram aceitáveis quando são só linhas de corpos como qualquer outro corpo.
linha é tempo é continuidade
é a vida que segue
olho no espelho de manhã e, com a ponta dos dedos, movimento os cabelos levemente em busca de novos fios brancos
gosto de encontrá-los quando mais longos, trazendo um colorido para minha cabeça
olho nas fotos e vejo duas linhas verticais entre as sobrancelhas, outras duas mais arredondadas ligam meu nariz ao meu queixo.
das marcas no rosto, me esforço um pouco mais para gostar tamanha a pressão exercida contra elas
eu tenho 32 anos e já me identifico com pautas relacionadas ao etarismo.
quero defender o envelhecimento e ainda nem cheguei lá,
mas cheguei se pensarmos bem no que esperam dos nossos rostos e corpos.
a beleza termina onde começa a idade e isso não é novidade para as mulheres
por muito tempo e até hoje me disseram que eu parecia mais nova e eu brincava que no futuro isso seria bom — naquele momento não era porque me tirava a autoridade e credibilidade de profissional adulta.
hoje acho absurdo.
me sinto tão melhor enquanto mulher de trinta e poucos do que já me senti em todos os outros momentos e idades que tive.
por que então esconderia meus anos?
quero parecer ter meus trinta e poucos e todos as idades que vierem.
me indigno com a insinuação de que rejuvenescer — ou parecer mais jovem — seja algo bom.
hierarquização dos corpos
por idade, por tamanho, por cor, por gênero, por forma de usá-lo.
eu detesto hierarquia
Este texto foi enviado na nona edição da minha newsletter, Faz Sentido?. Envio textos mensalmente por lá e, um tempinho depois, eles vêm pra cá. Então este é o #9 Faz sentido escrever sobre etarismo aos 32? Clica aqui para receber por email.