Faz sentido querer voltar?

Laís Webber
2 min readSep 16, 2022

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A voz de Elis já disse que no presente, a mente, o corpo é diferente, mas a gente segue numa sede de querer voltar, de retomar, de recuperar e de reviver o que a gente lembra ter vivido antes das mortes, das máscaras e do isolamento.

Lembra porque nem sempre foi bem como é na memória. Mas a gente quer voltar, não quer seguir. O que era novo, jovem, hoje é antigo e Elis tem razão: o corpo e a mente não são mais os mesmos e nem sabemos o que são.

Levantei os braços, bati uma mão na outra e não reconheci o balanço do corpo.
Onde estão os braços que ontem eram meus?

Ao mesmo tempo, balancei o quadril e não só cantei o refrão, gritei: que só o amor pode te afastar do canhão. A alegria do corpo e da mente em estar ali era a mesma — ou a mesma da qual me lembrava. Mas o nó na garganta era novo, as músicas eram novas, assim como a máscara presa ao rosto.

Rever um dos meus artistas favoritos depois de anos sem cantar refrões olhando para quem os compôs me fez querer chorar. Segurei. Me arrependo.

O que eu quero que volte e o que eu quero que vá?
O que eu quero reconstruir e o que eu quero deixar pra lá?
O passado é uma roupa que não nos serve mais.

Não teve catarse coletiva do retorno. Não há compasso entre nós.
Viver pequenas catarses individuais enquanto tudo finge que nada aconteceu me descola do mundo
me desloca.

Ainda vou sair na rua em grupo reunido, o dedo em V, cabelo ao vento, amor e flor.
Mas não, Elis, não precisamos todos rejuvenescer.

Este texto foi enviado na sexta edição da newsletter que criei, Faz Sentido?, junto com links relacionados. Enviarei textos mensalmente por lá e, um tempinho depois, eles vêm pra cá. Então este é o #6 Faz sentido querer voltar? Clica aqui para receber por email.

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Laís Webber
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Written by Laís Webber

Jornalista e Professora e tudo isso é só uma pequena parte.

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