Faz sentido imaginar futuros?

Eu ando na rua imaginando futuros. Encosto a cabeça na janela do ônibus e o sol me obriga a fechar os olhos. A nuca escorre como se eu estivesse brincando de pegar no recreio da escola. Mas sigo imóvel. A música nos fones já é só barulho enquanto imagino um futuro que pode acontecer dali a dois dias ou anos. Sonho acordada e quase choro. Choro bom e choro ruim.

Imagino futuros simples de nós dois sentados na mesa da cozinha esperando os amigos chegarem enquanto picamos cebolas e rimos. Uma cozinha com azulejo de vó e com o espaço que a nossa ainda não tem.

Me enxergo caminhando no centro cheia de sacolas de papelaria com pensamento ao longe decidindo qual a melhor cor de EVA para recortar formas geométricas que lembrem o céu. Sonhos simples que voam.

Os pesadelos vem assim como os sonhos e imagino futuros em que amores morrem e choro outra vez com discussões que não quero ter e que não estão no horizonte. Crio brigas mentais que não estão em pauta com pessoas que não lembrava que existiam.

Imagino futuros como se me preparasse sem saber para os futuros que chegariam mas o que chega é sempre o presente. Não sei deitar no travesseiro sem criar histórias para minha própria vida. Viagens longas em silêncio me alegram porque tenho tempo de sonhar. Em quarenta segundos, a vida já é das histórias e eu só posso decidir assistir ou interromper.

Eu não sei o que as pessoas pensam enquanto andam na rua. Eu ando na rua imaginando futuros.

Este texto foi enviado na minha newsletter, Faz Sentido?. Envio textos mensalmente por lá e, um tempinho depois, eles vêm pra cá. Então este é o #13 Faz sentido imaginar futuros? enviado em março. Clica aqui para receber por email.