Faz sentido fragmentar ideias?
Neste e no mês passado, sinto como se meus pensamentos estivessem fragmentados de forma que não consigo elaborá-los em texto. Pulo de um para outro sem conseguir formular um pensamento escrito que me deixe confortável para jogar no mundo. Se tivesse uma maquininha elaboradora de textos dentro de mim, ela teria um canal de entrada e dois de saída. Depois de passar por muitos processos de elaboração, o pensamento poderia sair pelo canal da escrita ou ser lançado, pelo segundo canal, de volta ao início, o que torna essa saída também uma entrada, ali estão os pensamentos que preciso ‘matutar mais sobre’. Hoje tem tanta coisa nova entrando e tanta coisa voltando para a matutação que a maquininha parece que entupiu e não tá saindo texto nenhum.
Resolvi honrar esse sentimento de fragmentação enviando esta Faz Sentido? em pedaços. Separei recortes de textos desconexos e sem contexto que destaquei durante leituras que fiz e ordeno de modo desordenado nesta sequência que segue. Assim burlo um dos objetivos que criei para esta newsletter — escrever mais — , mas respeito o outro — ver se o que se passa por aqui faz sentido por aí — e a vida segue honesta e despretensiosamente.
O fim do mundo talvez seja uma breve interrupção de um estado de prazer extasiante que a gente não quer perder.¹
Ainda não aprendeu que a felicidade exige paciência.²
José Mujica disse que transformamos as pessoas em consumidores, e não em cidadãos. E nossas crianças, desde a mais tenra idade, são ensinadas a serem clientes.³
Só que o futuro ali chegava rápido.⁴
O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.⁵
Viver conscientemente significa pensar criticamente sobre nós mesmos e o mundo em que vivemos.⁶
A vontade também implica escolha. Nós não temos que amar. Escolhemos amar⁷
Não desejei ter estas memórias, mas o problema é que também não consigo evitá-las. E a certa altura achei que não tinha que as evitar.⁸
Pode-se dar férias ao parentesco? Em silêncio, olho em volta. Cercado pelo sossego da pequena igreja me apetecia, naquele momento, deixar de ser filho, neto, sobrinho. Deixar de ser gente. Suspender o coração como quem pendura um casaco velho.⁹
Não. Ainda é você a única pessoa que faz perguntas nesta cidade.¹⁰
falávamos como se legendássemos fotografias¹¹
Não passe a mão pelas fotos que se estragam. Elas são o contrário de nós: apagam-se quando recebem carícias.¹²
Todas as manhãs, os pés de Cida pisavam rápido o calçadão da praia. Iam e vinham em toques rápidos e furtivos, como se tivessem envergonhados dos carinhos que o solo pudesse lhes insinuar no decorrer da marcha.¹³
para que eu compreendesse, enfim que quebrar uma coisa sempre tem as suas consequências e eu pensei: Depende. Depende de quem você é.¹⁴
Violência é doença contagiosa.¹⁵
A supremacia branca lhe ensinou que todas as pessoas não brancas são ameaças, independentemente de seu comportamento. O capitalismo lhe ensinou que, seja qual for o custo, sua propriedade pode e deve ser protegida. O patriarcado lhe ensinou que sua masculinidade precisa ser provada pela disposição em conquistar por meio do medo e da agressão; que não seria másculo perguntar antes de agir.¹⁶
Enquanto isso, tentava me impor uma disciplina, não me resignava, buscava ser combativa, às vezes até conseguia me sentir feliz.¹⁷
E foi se misturando às roupas do varal que ela ganhara asas e assim viajava, voava, distanciando-se o mais possível do real.¹⁸
esse negócio de sumir por um tempo deve ser o máximo.¹⁹
Abaixo, em notas de rodapé, estão as referências de todos os trechos que já cumprem a função de indicações dessa edição!
1.Ideias para Adiar o Fim do Mundo, de Ailton Krenak
2.Carcereiros, de Drauzio Varella
3.Ideias para Adiar o Fim do Mundo, de Ailton Krenak
4.Olhos d’água, de Conceição Evaristo
5.Sentimento do Mundo, de Andrade, Carlos Drummond
6.Tudo Sobre o Amor, de bell hooks
7.Tudo Sobre o Amor, de bell hooks
8.Caderno de Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo
9.Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra, de Mia Couto
10.Murilo Rubião — Obra Completa, de Murilo Rubião
11.O Livro das Semelhanças, de Ana Martins Marques
12.Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra, de Mia Couto
13.Olhos d’água, de Conceição Evaristo
14.Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei
15.Carcereiros, de Drauzio Varella
16.Tudo Sobre o Amor, de bell hooks
17.História da Menina Perdida, de Elena Ferrante
18.Olhos d’água, de Conceição Evaristo
19.Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei
Este texto foi enviado na minha newsletter, Faz Sentido?. Envio textos mensalmente por lá e, um tempinho depois, eles vêm pra cá. Então este é o #19 Faz sentido fragmentar ideias? enviado em setembro. Clica aqui para receber por email.