Faz sentido conversa ser como canção?

Tenho luz, mas não tenho internet em casa. É verão, mas tomo chá e tenho uma bolsa de água quente sobre a barriga. Uma cólica desconfortável me obriga a reunir o calor da água e o calor do dia. A ausência da internet me impede de conferir a autoria de uma frase que li pouco antes das barrinhas do wi-fi sumirem. Era algo que associava, em uma bonita metáfora, uma conversa entre amigos e a melodia de uma canção.

Com a amiga que me enviou a frase, tenho conversas capazes de tudo. Aquecem e relaxam mais que o chá e a bolsa de borracha. Instigam e aguçam a curiosidade mais que muitas aulas e leituras. Conversar com ela é como fazer descobertas e entrar em aventuras envolta por almofadas macias. Não me sinto imobilizada, mas sim protegida. Não na zona de conforto, mas também não em perigo. É um alerta bom. Mas não fácil. Sinto o ritmo nos fazendo dançar enquanto analisamos nossas próprias vidas e mais: nossos sentimentos e compreensões sobre o que nos acontece.

Amizades não são todas iguais. As demandas são diferentes. Os hábitos são outros. Mas o balanço entre a descoberta e o acolhimento, por sorte ou por cultivo, estão em todas as que me são preciosas. Se não for preciosa, talvez possa dizer que nem amizade é. Uma relação outra de carinho.

Minhas amizades são casa e, diferente da correria para encerrar o ano com a casa arrumada que envolve os encontros de dezembro, janeiro vem com a alegria de reencontrá-las no ritmo do novo, do calor, como nesse chá, do divertimento e do sonho que vem com o verão e com o clima de férias mesmo que as férias estejam longe de acontecer.

Faz tempo que priorizo o tempo com as amizades, que busco horizontalidade nas relações trazendo as amizades, muitas vezes relegadas para depois na vida adulta, para o lugar em que sinto ser seu, bem pertinho de mim. Quilômetros de estrada ou de mar me afastam de muitas que amo, mas as ondas das nossas canções seguem se encontrando pelo caminho.

Este texto foi enviado na minha newsletter, Faz Sentido?. Envio textos mensalmente por lá e, um tempinho depois, eles vêm pra cá. Então este é o #23 Faz sentido conversa ser como canção? enviado em janeiro. Clica aqui para receber por email.