Faz sentido amizade exigir manutenção?

Eu adotei um gato. Adotei um gato pra minha gata, que estava sem companhia felina há quase um ano e meio. A Daniela precisava brincar e ter um par, por isso decidimos, Lucas e eu, adotar um gatinho. Passamos a olhar curiosos os que surgiam, mas sem procurar. Até que apareceu o Diego. Nos encantamos e o trouxemos para casa.

O amor que eu sinto pela Daniela é difícil de explicar. Quando pegamos o Diego, eu só queria que a adaptação desse certo, que eles fossem amigos. O foco era só nela.

Mas o Diego encheu nossa casa de alegria.

Semana passada, no sofá, logo depois do almoço, enquanto a Dani dormia nas minhas pernas, o Diego brincava no meu colo. Eu peguei ele nas mãos e o trouxe até a altura do rosto para dar um cheirinho naquele minipescoço. Ouvi ele ronronar. Eu olhei nos olhinhos dele e senti: eu já amo esse bichinho. Fiquei emotiva. Eu não sei quando aconteceu. Mas aconteceu. Quando escolhemos adotar aquele minigatinho, eu estava encantada por ele, mas focada no bem estar da Daniela. Amar o Diego foi inevitável.

Eu termino alguns áudios de whatsapp para amigas dizendo “te amo, beijo”. É sincero. É de coração. Mas eu não sei quando começou. Nem os áudios, nem o sentimento. Não teve nem o olho no olho pós-almoço.

A gente não sabe quando começa e espera que nunca termine.
A gente não sabe quando começa e se dedica para que continue.
É preciso cuidar de um gatinho bebê, assim como é preciso cuidar de todos os amores que nos cercam.

São Paulo, Floripa, Cassino, Belo Horizonte, Berlim. Eu moro em Porto Alegre e muitas das minhas amigas mais íntimas mora entre 350 e 11 mil quilômetros de distância. Outras tantas moram bem pertinho, há poucas quadras ou bairros de mim.

Quanto carinho, esforço e cuidado é preciso para manter um relacionamento?
Quanta paciência, persistência e tolerância é preciso para manter um amor?

Amar profundamente um gatinho que destrói teu sofá e acaba com as tuas reservas financeiras
Amar uma amiga que te encontra uma vez por ano e leva semanas para responder um áudio

Mas quando vocês se olham nos olhos depois de um almoço, o mundo inteiro está ali.

Eu já amava, e muito, as minhas amigas quando elas foram morar longe e, amando-as, não fazia sentido nenhum deixar cuidar da amizade. Eu as quero perto de mim, com a frequência que for, mas com a intensidade de cada encontro, com a conexão de cada conversa, com a transformação que elas proporcionam dentro de mim.

Eu estou passando por um momento bem importante da minha vida pessoal e profissional e me peguei pensando nas ausências na mesa de jantar, na comemoração das conquistas. Em seguida, pensei nas presenças ao longo do caminho, nas ligações no domingo de tarde, na vontade de escrever para elas quando algo importante acontece e nas respostas que recebo, sempre superando as expectativas.

A Daniela e o Diego alegram minha casa e cuidam para que eu me sinta amada independentemente do estado do meu sofá. Minhas amigas preenchem minha vida e cuidam para que sigamos juntas, independentemente da distância.

Este mês, veio um texto brega e clichê para dizer que amizade precisa de manutenção e de cuidado e que eu sinto muito orgulho de como minhas amigas e eu cuidamos da nossa. Quando dou aulas de redação, percebo que, quando o aluno gosta muito do tema, fica mais difícil escolher um recorte sobre o qual escrever em poucas linhas. O mesmo acontece comigo: quando minha vida está cheia de informações e de acontecimentos, sinto dificuldade em escrever essa newsletter, em escolher um ponto. Este mês, juntei retalhos de sentimentos bem pessoais, de ideais muito meus e ficou assim. Não disse que não gosto de textos bregas. Obrigada pela leitura!

Este texto foi enviado na minha newsletter, Faz Sentido?. Envio textos mensalmente por lá (às vezes alguns links vão junto) e, um tempinho depois, eles vêm pra cá. Então este é o #31 Faz sentido amizade exigir manutenção? enviado em setembro. Clica aqui para receber por email.