Domingos que são o fim da semana passada

parar na janela e olhar a rua
sentar na praia e olhar o mar
deitar na grama e olhar o céu
subir bem alto e olhar o verde
parar na orla e olhar o sol fazendo a volta

vazios coloridos que preenchem os dias com instantes imóveis
completamente imóveis
sempre um olhar para longe como se a impossibilidade de alcançar o que se olha trouxesse a calma de não ter nada a se fazer a respeito além de olhar
a gente ali, imóvel, observando o movimento das pessoas, das ondas, das nuvens, das folhas, do sol e a mente vai entrando no ritmo do som, se desobrigando de tudo

domingos que não antecedem segundas e podem ser vividos até o fim como domingos deveriam ser
domingos que são o fim da semana passada e não estão na semana que vem
é o fim, não há mais nada que possamos tocar depois de agora

tudo azul laranja e verde
na minha imaginação de criança, os domingos são vermelho-rosa e amarelos são os sábados
quero um mar azul na minha terça e árvores próximas e distantes toda quarta.
quero olhar imóvel para longe até os ombros pesarem e se afastarem das orelhas sem que eu perceba
quero sentir o corpo esquentar no sol antes que ele se vá e depois quero sentir o vento gelar o rosto sacudir os cabelos enrubescer o nariz

pensamentos imóveis por instantes em que é só um fim sem pensar no próximo começo.

faz sentido domingo não ser o fim?

Este texto foi enviado na quinta edição da newsletter que criei, Faz Sentido?, junto com links relacionados. Enviarei textos mensalmente por lá e, um tempinho depois, eles vêm pra cá. Então este é o #5 Faz sentido domingo ser o começo? Clica aqui para receber por email.